O número de alunos quase duplicou no ano letivo que agora finda. E o número de cursos seguiu igual trajetória. Lançados em 2014, os cursos Técnicos Profissionais (TeSP) são hoje uma aposta (quase) ganha. Para isso, foi fundamental o reconhecimento em 2016 dos TeSP enquanto cursos superiores. É este o balanço feito por diversos presidentes de politécnicos
ouvidos pelo JN.
Vamos aos números, inexpressivos no arranque: 13 cursos para perto de 400 alunos. Em 2015/2016 foram abertos 249 cursos para 6401 estudantes. E no ano letivo que agora termina contam-se 11013 alunos. 1,8% do total de inscritos no ensino Superior (ES), para um universo de 640 cursos dispersos por 120 instituições (dados recolhidos a 5 de julho). Sublinhe-se que este valor reporta a cursos registados na Direção-Geral do Ensino Superior. Quantos estão a funcionar não se sabe, nem a tutela diz.
Cruzando vários dados conseguimos chegar a um perfil: 64% são frequentados por homens, a maioria com menos de 24 anos. Mais de 90% tinham o ensino secundário, mas, em 2015/2016, chegava a haver 116 licenciados.
As regiões Norte e Centro lideram, com 74% dos alunos divididos irmãmente.
“Todos os anos há perto de 130 mil alunos que ficam fora do sistema, porque só 40 a 45 mil vão entrar no ES. Os TeSP vão ter que ser a grande resposta para estes alunos que não têm acesso a uma qualificação superior, “diz o presidente do Politécnico de Viana do Castelo, Rui Teixeira para quem aqueles cursos “têm sido uma boa experiência.” Não tem dúvidas: “Os TeSP têm uma vocação própria e assertiva face às necessidades do país.”
A questão do abandono
A ideia é consensual entre pares. No P.Porto, que tem 448 alunos naqueles cursos, estão previstas 28 formações para o próximo ano letivo. Dentro de dois anos, explica o pró-presidente Luís Rothes, o objetivo é chegar aos mil alunos, 5 a6% do total. “Acho que é uma aposta conseguida. Esta oferta não era a única solução possível para resolver um problema sério que são as qualificações dos portugueses sintetiza.
No P.Porto, explica, a taxa de abandono ronda o habitual no Superior – 15 a 16% – e a taxa de retenção naqueles cursos é mesmo inferior, cerca de 6%. “A taxa de abandono não quer dizer que tenha deixado o ES, porque pode acontecer que sejam alunos que no ano seguinte tenham conseguido entrar numa licenciatura.”
Sabendo que só após este final de ano letivo será possível apurar quantos alunos seguiram para licenciatura e quantos conseguiram emprego, porque a primeira geração TeSP está agora a acabar de formar-se. Joaquim Mourato fala da “elevada taxa de sucesso” no politécnico que preside, o de Portalegre. Já em Bragança, Sobrinho Teixeira surge bastante cauteloso. “é uma aposta ganha?” Em parte sim. Em parte não.”
E explica, “os Cursos de Especialização Tecnológica (CET) tinham mais procura e mais sucesso escolar”, lembrando que no politécnico que dirige, em Bragança, os TeSP têm uma taxa de abandono de 35%, o dobro dos CET.
“Se um dos objetivos é dar um nível maior de competência para prosseguirem para licenciatura é um modelo com menos sucesso do que os CET. Se se pretende que possam ir para o mercado de trabalho teremos que esperar para ter essa perceção,” conclui.
Os TeSP são uma aposta ganha?
Considero que os TeSP estão a dar passos nesse sentido. A informação de que dispomos indica que há uma recetividade crescente, quer em termos de procura por parte de quem termina o ensino Secundário/Profissional, quer por parte das empresas que acolhem estes estudantes. A alteração legislativa realizada em 2016 e a sua integração no Decreto-Lei que regula os graus e diplomas de ensino superior foi importante no sentido da credibilização e afirmação destes cursos como cursos superiores.
Alguns politécnicos alertam para uma taxa de abandono elevada. Como comenta?
Não conheço as situações em concreto. Temos vindo a constatar que há algumas áreas em que se registam níveis de abandono elevados, estando as instituições a adotar medidas visando a redução dos mesmos. Um exemplo disso é o facto de várias instituições estarem a adotar metedologias de ensino/aprendizagem diferenciadas, como o PBI – Project Based Learning
Alunos admitem que curso motivou-os a continuar
Após concluir o 12.º ano, em regime noturno, Rui Gonçalo, 23 anos, andava indeciso sobre a sua vida e não sabia bem se continuar os estudos seria a melhor opção. Achava a escola “um bocado seca” e também não tinha grandes facilidades para ir para a universidade, pois já trabalhava. De repente, abriu-se uma oportunidade, quando teve conhecimento dos Cursos do Ensino Superior Profissional, virados para um ensino mais prático.
“Decidi experimentar. Como gosto muito de informática comecei a procurar cursos” explica. Residente em Macedo de Cavaleiros. O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) surgiu-lhe como uma excelente hipótese, tanto mais que é perto de casa. “Matriculei-me no curso de Desenvolvimento de Software e Administração de Sistemas. Não me arrependo. Para mim é mais fácil aprender com a prática e este curso ajudou-me muito,” referiu.
Rui está já na reta final, a concluir o estágio em meio profissional no próprio IPB. Agora tem a certeza que quer continuar a estudar. Vai matricular-se numa licenciatura em Engenharia Informática. “Aqui percebi qual é a área que eu quero estudar e trabalhar. O meu interesse é a Cybersegurança”, destacou.
O outro aluno que o acompanha no estágio, Paulo Ferreira, 21 anos, residente em Bragança, também ganhou nova vontade para estudar depois de frequentar a formação na área da informática.
“Quando terminei o 12.º ano não consegui média para entrar na universidade. Nessa altura arrependi-me de não ter estudado mais no Secundário, mas não tinha motivação. Como a minha irmã já tinha feito um curso profissional, disse-me para experimentar. Assim fiz. Estou a gostar”, contou Paulo, que diz que optar por este tipo de formação foi a melhor decisão que tomou.
“Abriu-me imensas oportunidades para descobrir o que quero. Tanto no semestre e meio de aulas, como agora no estágio, onde podemos praticar os conhecimentos. Até as notas subiram. É como se já estivéssemos no mercado de trabalho. Estamos a fazer coisas que se fazem em empresas”, afirmou Paulo, que vai candidatar-se este ano ao ensino superior, também ele na área de informática.
O professor que os orienta no estágio. Tiago Pedrosa, explicou que estão agora preparados para encontrar soluções na área de sistemas de segurança. “Eles contactaram-me para fazer em aqui o estágio. Temos desenvolvido muitos projetos. É muito prático e fê-los ganhar gosto pelo estudo. Quando ingressam nas licenciaturas vão com mais andamento”
Publicado em: “Jornal de Notícias”
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